DIA
UM
Eu
nunca preferi escolher como as coisas iam acontecer em minha vida. Os dias que
estavam para vir eram tão incertos quanto a morte. O tempo não passou afinal,
eu entrei no meu quarto e parece que o tempo resolveu me torturar, cessou o
tic-tac do relógio e começou a longa jornada rumo aos 4 dias de extrema
tortura. Porém decidi mudar o quadro desta história dramatizante.
Quando
caminhava por uma longa rua, logo a frente havia um belo parque, arvores,
flores, monumentos históricos. Como sempre gostei do ar livre, observar tudo lá
fui. Nem sabia eu que ali ia começar um dos diálogos mais profundos que já tive
com alguém em toda minha vida. Chegando ao parque, com arvoredos por toda a
parte, tinha um banco de madeira, e nele havia um senhor de cabelos longos e barba
grande, com uma pele cor clara. Estava vestido de forma bem simples, porém
elegante. Com passos firmes fui aproximando vagarosamente e sentei-me.
Boa Tarde – Disse eu ofegante e
ansioso por ali estar.
Ele calmamente virou-se para minha
direção, sorriu e disse;
-Boa Tarde! tarde bonita não?
Sim, realmente. O Senhor vem sempre
aqui?
-Sim costumo passar as tardes
pensando um pouco.
Como se chama?
- Will...
Will
era o tipo de pessoa que não falava muito, mas o que falava sabia muito bem o
que dizer. Will e eu conversamos quase a tarde toda, até que a noite iniciou.
Realmente estava surpreso pela maneira em que ele falava sobre a vida e sobre
tudo. Ele me colocou dentro de uma história para explicar como ela funciona, e
eu curioso pedi para que me contasse algo que aprendeu na vida sobre Deus. Will
em toda sua vida acreditou em Deus. Quando ele falava Dele era com amor que
administrava suas palavras. Contarei o que ele me disse sobre minha pergunta.
Will desde criança viveu muito só, e
não teve a presença das pessoas que sempre admirava. E quando as teve era por
pouco tempo, foi aí que seu relacionamento com Deus se iniciou. “Não que a solidão me levou até Deus, mas
me ajudou a dar valor e apreciar quando ele estava presente...” Disse ele.
Mas que tudo colaborou para chegar onde precisava. Ele continuou: Ao subir em
uma árvore, que sempre costumava a ficar e ali chorar, eu tinha a leve sensação
que havia alguém em baixo que colhia minhas lágrimas, porque todas as vezes que
descia de lá meu espírito era outro. Os anos se passaram. Me tornei rapaz
rápido, e a rotina se repetia. Um dia, muito aflito e perdido pelas as
dificuldades que enfrentava, corri e subi na árvore. Era um local distante e
isolado, onde ninguém ia, porém tinha uma vista bela e inspiradora. E ali
gritei chorando como sempre. Nunca fui de chorar na frente das pessoas, pois
era durão demais para isso. Porém a árvore era meu canto de oração, onde sabia
que encontraria Deus. Quando soluçava indagando meu sofrimento, ouvi uma voz me
chamado. Will... Will. Will, eu confuso procurava aquele som, olhava para todos
os lados e nada encontrava. Quando a voz disse; Will aqui em baixo. Rapidamente
olhei para baixo, era uma luz tão bonita que mal poderia olhar. Perguntei quem
é? No fundo, sabia que era Deus, ou estava ficando doido. Mas não estava. Ali, tive com Deus o diálogo
mais fantástico da minha vida. Ele me contou que das vezes que subi aquela
árvore, cada gota de lágrima ele colhia, e me mostrou um potinho brilhante com
um líquido, e no rótulo dizia “Will”.
Nossas lágrimas são guardadas por Deus.
Claro, era maravilhoso tudo aquilo, e saber que Deus, o Espírito Santo, estaria
ali me olhando e além disso, guardando minhas lágrimas. Deus sempre se
preocupou conosco, bem antes de todos nós existirmos, desde o início em Adão e
Eva, quando o ser humano havia perdido o contato com Deus, e o laço entre Deus
e o homem havia se perdido. Deus envia seu filho Jesus para reatar esse laço e
fazer o filho distante voltar novamente para a casa do Pai. Enquanto ainda
estava lá em cima da árvore ouvi aquela voz tirar de mim a dor que a vida e o
mundo estava me causando. Sabe quando você sente a ferida do coração se curar,
e virar uma simples cicatriz? Era assim que eu estava, por fim as lágrimas
cessaram e comecei a deixar um largo sorriso ali mesmo.
Quando Will terminou de falar eu já
estava com meu rosto cheio de lágrimas e não sabia o que dizer. Já era noite e
eu nem ao menos percebi. Aos poucos agradeci a ele pela conversa e prometi
voltar. Pois já era tarde e precisava voltar para casa. E mal poderia esperar o
segundo dia.
DIA
DOIS
Quando
acordei no dia seguinte, mal podia acreditar no que havia vivido anteriormente.
Levantei-me e abri a janela. Era impressão minha ou o mundo estava diferente
aquele dia? Eram meus olhos que o via de uma forma que nunca tinha visto. A
felicidade pousava sobre meus olhos, e a paz sobre meu coração. Will tirou de
dentro de mim as maiores dúvidas que tinha sobre a vida e sobre tudo que estava
vivendo. Sua história era inspiradora. Eu sentei em uma pequena mesa onde tinha
um abajur. Pelas noites, ali escrevia e colocava os escritos dentro de uma
gaveta logo abaixo. Era aqui que estava escrevendo essas palavras, quando
escutei a chaleira que soava dizendo que a água para o chá estava no ponto.
Mais a tarde peguei meu caderno de história e fui até ao parque novamente.
Estava ansioso para saber qual era a próxima história que Will iria me contar.
Chegando
ao parque, Will estava lá como sempre, porém percebi que em seu colo estava um
álbum de fotografias bem antigo, e sobre ele suas mãos já desgastadas pelo tempo,
com uma aliança que brilhava meio ofuscante. Ao perguntar ele me entregou o
álbum e pude folhear aos poucos, vagarosamente. Quando comecei a olhar, Will
respirou fundo e disse: “Lucy, esse era o
nome da minha esposa.” A esposa de Will se chamava Lucy e havia falecido a
uns 40 anos atrás. Ele estava próximo aos 75 anos, e até aquele momento ninguém
havia encantado o coração de Will como Lucy o fez. Will tinha servido no
Exército na grande guerra. Foi aí que
ele me contou como esse amor surgiu.
A
guerra me ensinou muito. Me tirou dias de paz e levou meus melhores amigos, mas
me deu um grande amor. Eu estava muito cansado depois de um longo combate, e
havia levado um disparo de raspão em minha mão direita. E mesmo com os
primeiros socorros doía muito. Nosso pelotão voltou ao acampamento para
reabastecer e dar atendimento aos feridos. Foi na enfermaria que conheci Lucy,
e nunca me esqueço daquele dia. Estava sentado na maca quando alguém disse para
esperar que uma enfermeira iria vir me ver. Estava todo sujo e ainda com rifle
atravessado em minhas costas. Lucy entrou pela porta com seus cabelos dourados,
uma pequena toca branca sobre a cabeça, um belo jaleco branco e um sorriso que
nunca tinha visto igual. Quando ela me cumprimentou, começou a tirar a faixa que
tinha colocado em minha mão, olhou em meus olhos e perguntou meu nome. Seus
olhos eram como o reflexo da mais bela pedra preciosa, e não sabia nem qual era
sua cor. Suas mãos, que nas minhas estavam, era como uma folha de seda, e seu
perfume era como flores ao campo. Mal podia esperar para saber quem era ela,
quando respondi qual era meu nome a perguntei “Qual seu nome?” Ela disse
olhando para mim: “Lucy”. Se existe amor, aquele foi o primeiro amor que tive.
Nos dias seguintes conversamos muito. Quando a guerra terminou eu pedi Lucy em
casamento. Ela mal se conteve e chorou me abraçando forte. Éramos jovens quando
nos conhecemos e nos casamos e foram os dias mais felizes da minha vida. Quando
Lucy cuidava de mim e eu dela, ela sempre cuidava ao bordar cada traço da minha
farda antes da aposentadoria. Antes que ela partisse com um sério problema
pulmonar, aprendi muito e fui amado como nunca havia sido antes. A primeira vez
que a vi tão feliz foi quando entreguei uma carta escrita em uma pequena folha,
que escrevi ainda quando estava na guerra, porém não tive coragem de entregar e
anos depois a tinha perdido. Mais a encontrei anos depois no meio das minhas
coisas. A carta dizia:
“Eu não via a luz do dia até que,
pela primeira vez, vi seu rosto. Não sabia o que era felicidade, e muito menos
vi meu próprio sorriso no espelho até que um dia meus olhos a viram pela
primeira vez. Tenho desejado que essa guerra termine, pois meu coração e minha
mente não param de pensar em você nem um minuto. Tenho medo de não poder voltar
a ver-te novamente. De onde vem esse desejo que queima em meu coração e arde em
meu peito? Queria poder abraçar-te agora,
provar de seus beijos e abraçar intensamente por um longo tempo, sem
pensar em nada além deste momento. Penso o que seria de mim se aquele dia você
não tivesse brilhado em minha vida como aconteceu. Hoje escrevo-te com meus
olhos enchendo-se de lágrimas de saudades de sua voz e de como tens cuidado de
mim. Até minhas feridas curam-se mais rápido.
Meu coração se alegra ao sentir suas suaves mãos ao me tocar.”
Ao
terminar de ler, Lucy estava com sua mão na boca e com os olhos cheio de água.
Prontamente me abraçou, foi aí que a máquina fotográfica que havia colocado na
mesa para registrar esse momento disparou.
Quando
Will terminou de falar, eu estava com álbum aberto sobre a foto onde ele
abraçava Lucy. Que história pensei comigo. Nunca fui de acreditar muito nesse
papo de amor, mas aquela história mudou minha perspectiva sobre tal assunto.
Desculpe Will, tenho que ir (Disse preocupado
com a noite que já era chegada)
- Não se preocupe, já estou de partida também.
Entreguei
o álbum para ele, que foi caminhando vagarosamente ao longo da rua até sumir.
Nada fez com que ele esquecesse um amor que dominava seu coração. Me perguntei
se ele a amava até hoje, e se o amor que
sentia por Lucy era tão forte assim que mesmo tanto tempo depois ainda
flamejava como uma fogueira nova. Era isso o significado do amor? Pensei
profundamente durante aquela noite.
DIA TRÊS
Eram
dias de glória os que estava vivendo. Coisas que nunca imaginei viver, lá
estava eu, ao som de uma canção que mal me contive de emoção. O dia amanheceu
negro como a noite, e a chuva que cai de leve dava um tom acinzentado ao tempo.
Quando voltei naquele dia ao parque Will não estava, por horas o esperei, mas
ele nunca mais apareceu. Voltei nos dias seguintes, mas não o vi. Abri o guarda
chuva e segui de volta para casa com o coração um pouco triste, mas ao mesmo
tempo feliz por ter aprendido muitas lições com aquele simpático Senhor.
Deitado
em minha cama, olhando no tempo, pensava em um amor que me consumia naqueles
dias. Amar não era meu forte, porém era preciso aprender a lidar com esse poder
que me dominava cada dia mais. Como poderia ignorar e não contar minha própria
história de amor? Pois ele estava tão perto que nem sequer poderia desviar-me
desse amor. Sabe aquela garota que faz seu coração pulsar só de olhar para ela?
Era mais ou menos isso que estava vivendo. Meu quarto era no segundo andar e a
janela dava diretamente a uma visão que sempre amei. Hoje a vi novamente, não
sei dizer o que sinto, mas tenho algo que precisaria dizer a ela.
Quando
sentei novamente em minha mesa onde sempre escrevia meus poemas e textos,
avistei meu caderno de poesias. Era ali que depositava todos meus sentimentos
e, naquele momento, procurava uma das mais belas poesias que tinha para, quem
sabe, encontrar coragem e levá-la até suas mãos. A história de Will e Lucy foi
minha maior inspiração de que o amor ainda está entre nós. Dê repente, ouvi
alguém batendo em minha porta, prontamente abri. Era o Carteiro Mark. Mark era
recém-casado. Vivia sorridente percorrendo a rua. Enquanto o recebia, Vivian,
minha vizinha, a quem tinha um amor perpétuo, saiu de sua casa. Morávamos bem
em frente um do outro, fiquei como uma estátua na frente de Mark enquanto ela
passava e acenava para nós e andava pela calçada até desaparecer. “Devia falar com ela.” Disse Mark,
ironicamente. Eu fiquei sem jeito, meio envergonhado, mal sabia o que dizer.
Chamei Mark para tomar um chá, era fim de seu expediente. Sentamos nas escadas
da área de minha casa e conversamos por um tempo. Logo perguntei se a conhecia,
disse que apenas ao entregar suas correspondências. Foi aí que tirei do bolso um
pequeno envelope. “Você poderia entregar
para ela.” Disse eu, meio envergonhado. Ele sorriu, disse “Claro, deixe
comigo. Bom. tenho que ir agora, até outro dia.” Fiquei ansioso para saber ela
ia achar da carta, afinal, era um pequeno poema apenas. Vivian era uma boa
Violinista, e fazia parte da orquestra da nossa igreja. O poema que a escrevi,
foi ao fundo de sua sinfônica que uma bela noite soava pela imensidão do meu
ser. E assim eu escrevi naquela noite.
“De onde vem, de onde vem esse som
que me faz levantar ao meio da noite? Meu amor por ti me puxou pelos braços e
me fez escrever-te mesmo não enxergando onde escrevia. Você despertou as
poesias que a décadas adormecia dentro de meu coração. Eu pude escutar e sentir
o balanço de seus cabelos ao tocar a sua canção preferida. Quando você fechou
os olhos para sentir a magia da música que saía de seus dedos banhar seu
coração de alegria. Em meus sonhos você sempre está e em meus pensamentos já os
domina. Em minha memória só existe seu rosto, e em meu coração apenas desejos
de te ter para sempre. Você me faz sentir a brisa do mar, mesmo estando a
milhares de quilômetros. Você me faz sentir o cheiro das mais perfumadas flores
sem amenos ter um jardim. O amor que em mim existe me transformou o mais feliz
entre os poetas e o mais forte entre os homens.”
No
dia seguinte Mark havia entregado a carta a Vivian, ele me deu um sinal de
positivo ao me ver na varanda de casa. Foi quando meu coração começou a ficar
mais ansioso e bater rápido como nunca. Não via a hora de saber o que ela havia
achado das minhas palavras. Afinal, eu a amava por tanto tempo que talvez ela
nem acredite que eu sentia isso por ela. E a grande pergunta era: porque não
disse isso antes?
DIA
QUATRO
Eu
trabalhava em uma grande biblioteca da minha cidade. Sempre fui apaixonado por
livros. Minha história é rodeada deles, e não era atoa que estava escrevendo
minha própria história. Depois que Mark entregou a carta para Vivian passei os
dias pensando no que ela ia achar das minhas palavras. Era de manhã, eu estava
na biblioteca, entre as prateleiras devolvendo alguns livros ao seu lugar.
Quando escutei o sino da porta soar. Era alguém que estava entrando. “Olá”
escutei uma suave voz entre o eco dos corredores da biblioteca. Aquela voz era
inconfundível, quando sai para atender mal podia acreditar quem ali estava na
minha frente. Vivian, com um vestido branco e em uma das suas mãos seu violino,
que ela não se separava nenhum instante, e na outra mão minha carta. “Olá”
disse eu meio que gaguejando.
-Obrigado.
São bonitas suas palavras, aliás, fantásticas.
Foi
quando ela se aproximou mais um pouco de mim, e repentinamente me abraçou. Eu
trouxe essa história até aqui porque queria terminar ela no momento mais surreal
que já tinha vivido. Eu estava abraçado com a garota que mais amei na vida.
Enquanto ela me abraçava seu punho se fechava dobrando minha carta, e aquele
som do papel se amassando entrava em meus ouvidos enquanto sentia seu perfume
sobre meu rosto como uma leve brisa. Foi quando a abracei envolvendo meus
braços e minha mãos sobre seus longos cabelos. Vivian sentia o mesmo por mim,
foi isso que ela me disse em meus ouvidos enquanto me abraçava incansavelmente.
Eu estava no lugar certo pela primeira vez. Parece que o mundo havia parado, e
ouve um silêncio no universo. Quando olhei um pouco adiante vi, como se um
brilho branco, saindo da porta da biblioteca, e antes de sair olhou para mim e
sorriu. Foi aí que percebi que era Will. Não me contive em lágrimas, e disse
soluçando “Obrigado Will”. Will era apenas um anjo que apareceu, e nunca mais o
vi.
Anos
depois eu e Vivian nos casamos, e contei sobre Will. Foi aí que ela me disse
também sobre um senhor, na verdade um maestro substituto que veio até a orquestra
que se chamava Will. Ela já havia desistido de tocar pois estava com muita
dificuldade em aprender. Foi quando Will passou duas folhas de exercícios com
uma canção para que ela tocasse em casa. Foi neste dia, enquanto ela ensaiava
em sua casa que escrevi a poesia que, dias depois a entreguei. Alguém no céu
queria nos ver juntos.
Hoje acordei cedo, Vivian ainda
dormia. Estou olhando para ela. Seus olhos todos os dias me inspiram a escrever
algo diferente. As vezes a vida nos envia anjo para nos fazer voltar a
acreditar no amor. Se não fosse Will talvez nunca teria coragem e talvez nunca
voltaria a acreditar que o amor era possível. Não deixe que a fogueira do amor
se apague dentro de você, mesmo que houve tempestades que levou a chama maior.
Sempre deixe uma brasa. Sempre deixe um resto para que um dia alguém possa
reacender essa chama e nunca deixar apagar novamente.
Vivian
estava a me escutar falando baixinho o que aqui escrevia. Foi aí que ela chamou
meu nome, respirou fundo e disse;
TE
AMO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário